No post de hoje tem uma resenha de Morte e Vida Severina – auto de natal pernambucano, um poema de João Cabral de Melo Neto.
Narra a história de Severino, um retirante nordestino que segue o curso do rio Capibaribe. Ele pretende chegar à cidade grande em busca de melhores condições de vida.
Nesse sentido, o título Morte e Vida Severina já evidencia uma inversão na ordem natural ocorrendo a prevalência da morte sobre a vida.
Essa “morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia.“
Durante o seu percurso Severino encontra a morte por diversas vezes e ela aparece em diferentes formas.
— “Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva;”
Contudo, outro aspecto abordado no poema é a religiosidade. Logo, Severino compara sua viagem às contas de um rosário: “sei que há simples arruados, sei que há vilas pequeninas, todas formando um rosário cujas contas fossem vilas, de que a estrada fosse a linha.
Devo rezar tal rosário até o mar onde termina, saltando de conta em conta, passando de vila em vila.”
Desse modo, a parte mais emocionante do poema é o Funeral de um Lavrador,
— Essa cova em que estás, com palmos medida, é a cota menor que tiraste em vida.
— é de bom tamanho, nem largo nem fundo, é a parte que te cabe neste latifúndio.
— Não é cova grande. é cova medida, é a terra que querias ver dividida…
No entanto, através deste poema o autor faz uma denúncia acerca das condições miseráveis às quais os retirantes são submetidos.
Enfim, tudo isso representado pelas distintas alas dos cemitérios de Santo Amaro e Casa Amarela. Avenidas dos ricos para os usineiros, políticos e banqueiros.
O bairro dos funcionários para os contratados e mensalistas e o dos operários e dos indigentes para os retirantes e pobres vários.
Conheça: João Cabral de Melo Neto em 8 Tempos
Todavia, trata-se de uma das obras de Literatura Brasileira mais emocionantes que eu já li, recomendo sem medo de errar. É maravilhosa e toda vez que releio, a emoção é sempre indescritível.
Escrito entre os anos de 1954 e 1955, Morte e Vida Severina é uma peça teatro, dividido em 11 quadros e o último quadro subdivide-se em 8 cenas.
Por fim, Morte e Vida Severina já ganhou diversas adaptações e uma das mais conhecidas é a Minissérie dirigida por Walter Avancini.
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ISBN-13: 9788560281329
Ano: 2007
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 168
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Sinopse: Os poemas escolhidos para integrar esta coletânea desnudam os elementos fundamentais da obra de João Cabral de Melo Neto. Morte e Vida Severina (1954-55), poema que dá nome ao livro, é a obra mais popular de João Cabral e aborda o tema da seca nordestina, dando voz aos retirantes que fazem o duro percurso entre o rio Capibaribe e Recife.
O poema O rio também retrata o universo árido às margens do rio Capibaribe, mas dá voz a ele próprio como condutor da narrativa. Engenhos de cana-de-açúcar, usinas, retirantes e trabalhadores são retratados na velocidade do correr das águas.
Em Paisagens com figuras (1955), João Cabral sintetiza em palavras uma de suas principais características, que é o hibridismo de linguagens. Mesclando descrições de imagens de Pernambuco, com paisagens da Espanha, o poeta desfila toda sua expressividade onírica.
Por fim, Uma faca sem lâmina (1955), trata do desafio da composição poética, que ele ilustra numa faca sem bainha, que corta o poeta por dentro.